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➡ Processos de raciocínio indutivo na redação

Dentro do processo de construção da redação no Enem, precisamos de ferramentas que ajudarão a aumentar a sua nota de forma poderosa sem cair nas fórmulas prontas dos cursinhos. Os mais frequentes processos do raciocínio indutivo - que passaremos a conhecer -são: a argumentação por enumeração/ estatística; a argumentação por analogia; o argumento de autoridade; o argumento contra o homem. Alguns deles virão em artigos posteriores. Hoje trataremos aqui apenas da argumentação por enumeração/estatística.

Argumentação por enumeração/estatística


Trata-se do tipo mais simples de raciocínio indutivo. De acordo com ele, o que se tem verificado com os elementos do conjunto observado deve, por comparação, por semelhança, verificar-se também com todos os elementos do conjunto. Ou seja, é uma generalização.



Quais são os perigos de concluir e pensar por estatística?

• a generalização ser feita a partir de amostra insuficiente de dados.
•  a tendenciosidade da estatística: a escolha do material pesquisado pode ser manipulada de acordo com um interesse prévio sobre a conclusão, o que torna os dados não representativos.

Por exemplo: se uma organização fizer uma pesquisa de opinião sobre as preferências de tipos de poupança e/ou aplicação presentes no mercado, tendo em vista verificar a possível aceitação de um novo produto do mesmo gênero, a ser lançado por ela, seria válido concluir a partir da consulta de apenas um tipo de cliente? A resposta é não, pois haveria insuficiência de dados para se chegar a conclusão

Exemplo de argumentação por a enumeração/estatística

Nossos filhos terão emprego?

A grande maioria das mães de adolescentes e pré-adolescentes se preocupa, com razão, com as perspectivas de emprego de seus filhos e filhas. As notícias sobre o fim do emprego, terceirização, globalização, níveis de desemprego são alarmantes para quem pretende iniciar uma carreira daqui a alguns poucos anos.

Quais são os fatos concretos?

1  - As 500 maiores empresas brasileiras não acrescentaram um único emprego novo nos últimos dez anos. Pelo contrário, retiraram do mercado 400.000 postos de trabalho, passando a empregar somente 1,6 milhão de funcionários, o que representa insignificantes 2,3% dos trabalhadores brasileiros.

2 - A globalização está dizimando não apenas empresas brasileiras, mas setores inteiros.

3-O crescimento das importações não gera apenas um problema de déficit comercial, mas cria empregos no exterior em detrimento do emprego interno.

Sem querer dar a impressão de um mar de rosas, existem algumas considerações que amenizam este quadro. Dificuldades os jovens terão, mas os argumentos abaixo serão úteis quando o pânico empregatício surgir novamente:

1-O crescimento das importações não durará para sempre no nível atual e nunca chegará a 94% do PIB, desempregando todo mundo, como uma simples extrapolação poderia sugerir. Provavelmente estabilizaremos em torno de 15% as importações, como na Índia e nos Estados Unidos. Oitenta e cinco por cento do PIB será feito por brasileiros para brasileiros.

2- O grande gerador de emprego no mundo inteiro não é a grande empresa, e sim a pequena e a média. Quem emprega 97,3% da força de trabalho hoje em dia são a pequena e a média empresa, bastante esquecidas ultimamente nas prioridades econômicas do governo.
(...)

(Stephen Kanitz - Ponto de Vista - Rev. Veja, 25/03/98)

Comentários

Note que o tema do fragmento é colocado por meio de interrogação, o que acentua o seu caráter de polêmica, de debate, isto é, a sua contextualização como um texto dissertativo: Nossos filhos terão emprego?

Na enumeração de fatos concretos, isto é, de argumentos particulares por meios dos quais o leitor vai sendo induzido a refletir sobre o problema discutido, tanto o argumento 1 - que defende a resposta não -; quanto os argumentos 1 e 2 - que por sua vez defendem a resposta sim - exemplificam o processo de argumentação por enumeração/estatística.

No final do texto, o autor chega a uma conclusão, na qual enfim aparece o seu ponto de vista, que mescla as duas direções em que a argumentação foi desenvolvida: Não querendo deixar a impressão de que tudo será fácil nem de que estamos no caminho certo, quem decifrar o seguinte enigma não terá de se preocupar: no futuro faltarão empregos, mas não faltará trabalho.